Como como?
– O quê?
-Ah! Não diga que você não entendeu!
– Sim! Eu como, tu comes, ele come, nós comemos…Um momento! Nós comemos o quê? Já parou para pensar? ComER é essencial para vivER. Todos nós sabemos! Quer dizer: quase todos! Os verbos comungam de uma mesma conjugação, mas nós, seres humanos, não comungamos de uma mesma alimentação. Por isso! Chega de matar! Esse é o maior equívoco.
Fig.1 Alimentação saudável
Comer está para além de matar a fome, mas sobretudo uma ação que leve ao consumo consciente, saudável e sustentável. Não se pode pensar no prato sem pensar no planeta. Outro fator, preocupante para a população em qualquer parte da Terra, é o desperdício alimentar. Ele tem gerado grandes impactos sociais e ambientais. Veja o apelo feito pela campanha que nos chama para uma mudança positiva de comportamento.
Em uma sociedade, num processo cada vez mais aligeirado, tem-se alterado, consideravelmente, a forma de se relacionar com o alimento e reflete uma realidade que temos sido reféns de uma ditadura alimentar, de um exército chamado Fast food. Os processos de produção e padronização alimentar, gerados por esse tipo de alimento, acarretam grandes impactos em diversas esferas: extinção de espécies e técnicas, a modificação de conhecimentos e saberes locais ligados à comida, a monocultura e, o maior agravante, alto consumo de alimentos ricos em gordura saturada e açúcar em detrimento do baixo consumo de frutas, legumes e verduras.

Em oposição a essa ordem, surge o Slow Food, um movimento criado na Itália, na década de 1980, idealizado e fundado pelo italiano Carlo Petrini. Na livre tradução para o português, a expressão que vem do inglês, significa “comida lenta”. O conceito traz em si, a predileção por uma alimentação refletida em princípios políticos e filosóficos.
Calminha, aí! Comida agora tem partido e filosofia? Não é bem assim! O movimento tem ganhado adeptos em vários lugares no mundo, tem crescido de forma exponencial. Partindo da premissa de um novo conceito alimentar, ele sustenta o tripé: alimento bom, limpo e justo. Conforme defendido pelo Slow Food:
Alimento bom: qualidade, saboroso e saudável;
Alimento limpo: não prejudica o meio ambiente e não prejudica a saúde humana;
Alimento justo: remuneração e condições justas para os produtores.
Movidos pela ideia da valorização da gastronomia cultural do povo nordestino são destaques duas figuras que se preocupam com esse princípio:
Timoteo Domingos é um sergipano que se preocupa com a valorização da alimentação local do povo sertanejo. Ele é cozinheiro, pesquisador, fundador da Gastrotinga, que utiliza diferentes espécies de cactos, mandacaru, xique-xique, palma e faxeiro, propondo novos sabores e alternativas de alimentação no Semiárido.
Leila Carreiro é uma baiana que promove a cultura regional em suas receitas. Ela resgata as comidas típicas das feiras livres da Bahia e as comidas de rua do Recôncavo, misturando ingredientes locais e regionais, como mariscos, sementes e folhas, mesclando influências da culinária indígena, africana e sertaneja, do real sabor da história da Bahia.
Existem pontos de apoio no estado da Bahia para outras informações e representantes desse movimento gastronômico:
Arraial D´Ajuda – Arraial D´Ajuda (BA) Líder:Luigi Pasculli (73) 98848 3554 arraialdajuda@slowfoodbrasil.com |
Licuri – Capim Grosso (BA) Líder:Josenaide Souza Alves (74) 99199-8569 |
Salvador – Salvador (BA) Líder:Alberto Viana (71) 99621 1898 |
Umbu – Uauá (BA) |
Você sabia que comida também entra na lista de extinção? Pessoas preocupadas com a valorização e extinção de muitos sabores surgiu a “Arca”, mas não é de Noé! Isso mesmo: “Arca do Gosto” é uma metáfora à Arca de Noé. Nada mais é do que um catálogo de sabores ameaçados de extinção. É um verdadeiro patrimônio mundial. Desde a sua criação, aproximadamente 5000 produtos foram incluídos na Arca. Só no Brasil ,são mais de 100 alimentos nativos catalogados.
O maior propósito é trazer o alimento para o consumo e para a mesa dos brasileiros como forma de garantir seu cultivo e sua preservação. Esse trabalho só é possível graças à parceria de universidades, movimentos da agricultura familiar e do “Slow Food”. Qualquer pessoa pode indicar produtos para fazer parte dessa catalogação. Embarque nessa Arca! Veja como você pode fazer:
A intenção aqui, não é estabelecer nenhum ditame alimentar, mas provocar uma Educação consciente para a comensalidade que vai além do saboroso ato de comer.
Referências:
http://www.slowfoodbrasil.com/convivium/onde-estamos-convivia-no-brasil
https://www.brasildefato.com.br/2018/01/19/museu-do-sertao-conta-a-historia-do-povo-sertanejo/
http://slowfoodbrasil.com/documentos/slowfood-livreto-arcadogosto.pdf
Mônica Mota
Professora da Rede Estadual de Ensino da Bahia