Olimpíadas, competição e cooperação

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O Brasil está vivendo um momento ímpar de sua história, sediando os jogos olímpicos de 2016. É importante aproveitarmos essa oportunidade para refletirmos sobre os valores e subjetividades que participam da nossa cultura e que estão espelhados nessas competições. A sensação de vencer, ser o melhor, nos dá prazer e é, ao final, a mola mestra do nosso sistema econômico. Nildo Viana[1] afirma que “a competição é apontada como um produto social e histórico que gera uma sociabilidade e mentalidade competitivas cujo resultado é a naturalização desse fenômeno social”. Os jogos, de modo geral, são reforçadores desse processo.
A sociedade capitalista dá excessivo valor à concorrência, disputa e superação do outro e a “competição é seu elemento estrutural”[2]. Até pouco tempo atrás, era o vestibular quem definia quais os melhores estudantes do Brasil; hoje, é o Enem, mas a tônica é a mesma: preparar-se a vida inteira para competir por uma vaga nas melhores universidades, depois de formado vem a disputa por um emprego. Só existe lugar para os vencedores, no mercado de trabalho. Todo ano são divulgados hankings dos melhores alunos e universidades, muitas espalham outdoors pela cidade com fotos dos seus alunos campeões: é um pódio, quem não passa por essa seleção é taxado como perdedor. Os americanos têm um termo bem jocoso para designar essas pessoas: “loser”. A tradução é perdedor, derrotado. Não há lugar no topo para todos, logo, todos acham normal que existam excluídos.
A semelhança com os jogos olímpicos não é mera coincidência, já que a Grécia é o país em que essas competições nasceram. A cultura grega influencia a nossa em diversos aspectos, os heróis e seus mitos de superação inspiravam os jovens a lutar e vencer seus adversários, consequentemente morriam cedo e eternizavam seu nome na história. Aos que tombavam nos campos de batalha, nenhuma glória: “losers”. O propósito desse texto é, ao final, provocar uma reflexão a respeito da ideologia que os jogos trazem. A TV mostra medalhas de ouro no peito dos vencedores, explora as características daqueles que superam seus limites e batem recordes, quer que nossos jovens aprendam a vencer; mas o que sustenta essas vitórias é a derrota infringida ao outro, humilhar o adversário, fazê-lo tombar em campo. É, sim, a analogia de uma batalha em que, ao final, se estabelece uma hierarquia entre vencedores e vencidos e tudo fica acomodado pelo “espírito esportivo”. Ora, saiba perder, eles dizem.
Como professor, você já ouviu falar em jogos cooperativos? Isso mesmo! Trata-se de uma prática esportiva que se preocupa em reforçar os valores sociais humanos, tais como reciprocidade e solidariedade entre os membros do jogo. Conheça essa proposta e reflita sobre a necessidade de equilíbrio entre competitividade e cooperação na educação dos nossos jovens.
Assista ao GINGA, uma produção da TV Anísio Teixeira que explora a relação entre educação física, cultura corporal e humanização.
Valdineia Oliveira
Professora da rede pública estadual de ensino
FONTES
[1] VIANA, Nildo. Educação Física, Competição e Sociabilidade Capitalista. Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação – RESAFE. 2011.
[2] Idem 1.
BLANCO, M. R. Jogos cooperativos e educação infantil: limites e possibilidades. 181 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
CORREIA, M. M. Trabalhando com jogos cooperativos: em busca de novos paradigmas na Educação Física. Campinas: Papirus, 2006
ORLICK, T. Vencendo a competição. São Paulo: Círculo do Livro, 1989